A Paisagem

A poucos quilómetros da cidade deixámos a estrada alcatroada e embrenhámo-nos pelo mato. A vegetação verdejante que corria ao lado da estrada perde o seu viço e plantas e, ervas oferecem aspeto desolador.

O jipe passa a custo por entre árvores espinhosas que riscam os vidros como unhas de gato assanhado. Aqui e além, pequenos répteis atravessam o caminho deixando na areia o rasto por onde passaram. Cada planta parece gritar a Deus a bênção de uma gota de água. A cantilena monótona das cigarras torna mais duro ainda o ar que respiramos.

Mais ao longe o caminho desce. A nossos pés uma planície baixa, inundada de lagoas aqui e além.

Foi nessa terra alagadiça que se fixaram grupos de camponeses que arrancam à terra os seus produtos em troca de muito suor.

Parámos à sombra de um cajueiro, tirámos a merenda do bornal e bebemos água fresca. Um agricultor que passa ao nosso lado saúda-nos com muito respeito. Oferecemos da nossa merenda e, em paga, fomos convidados a acompanhá-lo à machamba, onde orgulhosamente nos foi mostrando o fruto de dez anos de trabalho. Este pedaço de verdura no fundo de um vale tem o gosto de um oásis num deserto.

Mal sabia esse herói da terra que dias depois, um rio embravecido sairia do leito para arrasar aquele jardim.

Como é incerta a nossa vida!

Regressámos a casa. Os mesmos picos aguçados lá estavam ameaçadores, respirámos por fim na estrada larga e escura não podendo porém esquecer aqueles que, numa luta constante arrancam da terra ingrata o seu sustento.

Fernando Rosa/Moçambique

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *