Hoje, dia 29 de abril, é o Dia Internacional do Cão-Guia, data para celebrar a existência desses heróis peludos que colaboram com a inclusão e são os olhos de quem tem algum tipo de deficiência visual.
A preparação de cachorros para esta finalidade começou na época da Primeira Guerra Mundial, momento no qual muitos soldados acabaram cegos. Na oportunidade, o médico alemão, Dr. Stalling, foi o precursor dessa ideia, que tempos depois foi aprimorada, quando a primeira escola de cães-guia do mundo foi fundada, em 1916.
No cenário atual, infelizmente, o número de cães-guias no Brasil ainda é insuficiente frente à demanda. Dados do IBGE revelam que há mais de seis milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual para apenas 200 cães aptos a exercerem essa atividade no País.
Alguns desses caninos foram formados pelo Instituto Magnus, localizado no interior de São Paulo, e que desde 2015 atua em prol das pessoas cegas ou com deficiência visual. Para falar mais sobre a data tão importante, nós batemos um papo com Thays Martinez, advogada, que há 20 anos foi uma das primeiras pessoas no Brasil a ter a companhia de um cão-guia. Martinez, que trabalha na área de Relações Institucionais do Instituto, já nos contou sobre a própria experiência e agora compartilha informações e curiosidades sobre o tema. Confira à seguir:
Processo de adoção de um cão-guia
É importante pesquisar quais instituições trabalham com a formação de cães-guias, prezando sempre pela idoneidade, e entrar em contato para saber como é o processo.
Via de regra, tudo começa com o preenchimento de uma ficha cadastral que, após ser validada, dará início a todo o processo. A pessoa precisa ter mais de 18 anos, ter independência nos quesitos orientação e mobilidade, disponibilidade de tempo e condições financeiras para cuidar do cachorro. Martinez ressalta que os gastos com o cão-guia são os mesmos de um peludinho que não realiza o mesmo trabalho.
Clique aqui, para saber como é o processo do Instituto Magnos.
Tempo de espera
O tempo de espera vai depender de cada instituição que prepara os cães, mas como adiantamos, há uma defasagem no País que dificulta atender a alta demanda. No Instituto Magnus, por exemplo, cerca de 400 pessoas estão na fila de espera, mas nada impede que a pessoa que se cadastrou por último consiga fazer a adoção primeiro do que as outras, isso porque cada cão formado passa por uma profunda análise para saber com qual pessoa da fila ela é mais compatível, dessa maneira aumentam as chances de sucesso da parceria.
As raças mais indicadas
Pelo Mundo, mais de 20 raças diferentes já foram treinadas para este nobre trabalho. No Brasil, os mais procurados são os Labradores e os Golden Retrievers, famosos por serem inteligentes e obedientes. Curioso é saber das pequenas diferenças de comportamento de cada um, por exemplo, se no meio do trabalho o cão ficar interessado por alguma coisa e quiser ir até lá pra conferir, o Labrador tende a mudar a rota rapidamente, já o Golden vai procurar um jeito de desviar a rota suavemente, de maneira que seu tutor nem acabe percebendo 😆.
O “match” entre pessoa e cão
A definição da futura parceria é um momento muito importante, pois se trata de uma relação que irá durar longos anos. Uma equipe analisa caso a caso e toma a decisão levando em conta diversos critérios para que o “casamento arranjado” seja feliz.
Estes profissionais levam em consideração principalmente a rotina, preferências e temperamentos de ambos, antes de dizer o “sim”. Então, se a pessoa tem o costume de caminhar mais rápido, nada de um companheiro de quatro patas que prefere se mover com mais vagar. Também nada de “match” entre um cão que prefere ter a mesma rotina diária, com alguém que a cada dia tem uma realidade diferente.
Período de adaptação
O grande encontro não implica no término do trabalho. Ainda há o período de adaptação que dura, em média, entre três e seis semanas.
No Instituto Magnus, as pessoas contempladas com a adoção, ficam alojadas por 15 dias no próprio Instituto, recebendo as primeiras orientações e aprendendo a fazer a leitura das mensagens corporais do seu novo parceiro. Quando o vínculo está mais estabelecido, os instrutores organizam uma agenda para acompanhar o dia a dia da dupla, até que ela esteja pronta para seguir com as próprias pernas (e patas).
Aposentadoria do cachorro
Na média, os cães começam a atuar como guias a partir de um ano e meio de idade, trabalham entre sete a nove anos, e alguns conseguem exercer essa função até por 11 anos. Depois eles encerram as atividades, dão lugar para outro cachorro que também foi treinado e vai curtir sua merecida aposentadoria com a mesma família ou com algum familiar mais próximo, caso a primeira opção não seja possível.
O que você não deve fazer
Se deparar com um cachorro na rua é motivo de felicidade e traz um desejo imenso de querer interagir com ele. Mas com os cães-guias essa interação não deve acontecer, exceção feita, claro, nos casos em que a pessoa que o acompanha consentir.
Lembre-se que humano e cachorro formam um dupla, na qual o segundo está trabalhando, portanto, nunca aborde o animal diretamente e peça permissão para a pessoa antes. Mesmo um simples carinho é capaz de desviar a atenção do animal.
Outros erros pra você nunca cometer são: oferecer comida para o bichinho ou puxá-lo pela guia, toda sinalização de algum perigo deve ser feita para o humano, que estará preparado para dar os devidos comandos para o seu companheiro. Está na companhia do seu cachorro? Então melhor deixar o caminho livre ou avisar que você e o seu pet estão próximos.
O cão-guia continua sendo um cachorro
A imagem do cão-guia com a sua guia especial, somada ao seu ar impassível de quem está concentrado na função, acaba fazendo com que esqueçamos que o cão-guia também leva uma vida normal de cachorro.
Ele está sujeito a erros e distrações quando está em serviço e depois que tira a capa de herói, tem seus momentos de lazer, brincadeiras e relaxamento. Importante dizer que os Institutos sérios levam em conta o bem-estar dos animais durante toda vida e já nos primeiros treinamentos os instrutores avaliam se o animal se sente feliz exercendo o trabalho de guia.
Caso o animal demonstre irritação, desconforto ou impaciência ele é direcionado para alguma outra atividade compatível ou é encaminhado para adoção para viver feliz na companhia de uma família que esteja procurando um pet para ser a alegria da casa.
Ficou curioso sobre o assunto e quer saber mais? Então ouça o Podcast Petlove com a participação da Janaína Teixeira, Coordenadora de Relacionamento do Instituto Magnus.
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